
Ah, o Supremo Tribunal Federal! Esse templo da moralidade e da ética impoluta, onde as togas tremulam ao vento da justiça e os magistrados trabalham arduamente para garantir que a lei seja aplicada com imparcialidade… Ou pelo menos é isso que querem que você acredite. Mas eis que surge Luís Roberto Barroso, esse paladino dos direitos adquiridos dos togados, para nos iluminar sobre a nobreza dos famosos “penduricalhos” salariais.
Na sua mais recente epifania televisiva, concedida com exclusividade à GloboNews (porque, claro, onde mais um ministro do STF se sentiria confortável para defender o indefensável?), Barroso decidiu explicar para os pobres mortais que as críticas ao Judiciário são, na verdade, “injustas“. Porque, vejam bem, não se trata de regalias, mas de uma “necessidade” que visa compensar o volume de trabalho desses pobres coitados que têm de lidar com processos “acima da média global”. Pobrezinhos!
Nada mais justo, não é mesmo? Afinal, se um juiz decide tirar férias e, no mês seguinte, recebe mais do que o teto constitucional, isso é só um detalhe. Se um magistrado assume o acervo processual de um colega e ganha um “extra” por isso, é apenas um pequeno ajuste financeiro para evitar que ele caia na pobreza extrema. Sabe como é, não? Com R$ 100 mil por mês, mal dá para pagar as contas do iate e do apart-hotel em Miami.
Mas fiquem tranquilos, caros brasileiros. O próprio Barroso garantiu que tudo é transparente! Todos os gastos do Supremo estão lá, bonitinhos, em “páginas de absoluta transparência”. Claro, só não esperem encontrar as justificativas mirabolantes para os auxílios, as verbas extras, os jetons, as gratificações e outras bondades do orçamento público. Essas estão submersas em um emaranhado burocrático digno de uma saga de ficção científica.
Agora, se você, um trabalhador comum, quiser um aumento porque a inflação devorou seu salário, prepare-se para ouvir um discurso sobre responsabilidade fiscal e equilíbrio das contas públicas. Porque, veja bem, nós vivemos em um país onde dar aumento para professor, enfermeiro ou policial quebra as contas do governo, mas permitir que 870 magistrados ultrapassem os R$ 100 mil por mês (sim, isso mesmo, mais de cem mil reais) é algo absolutamente justificável. Afinal, um juiz brasileiro tem muito mais trabalho do que um juiz alemão, francês ou americano, né?
E para não perder o costume, vamos falar de números. Segundo um relatório da Transparência Brasil, a conversão de “licença-compensatória” em dinheiro resultou em um aumento médio de R$ 12.400 nos contracheques de nada menos que 8.736 magistrados. O resultado? Um rombo de R$ 819 milhões em 16 meses. Mas quem está contando, não é mesmo? Afinal, isso é dinheiro “bem empregado”.
E tem mais: 4.200 magistrados receberam mais de R$ 100 mil com esse benefício. Um desembargador de Pernambuco, em especial, viu seu contracheque engordar em R$ 313,2 mil em 16 meses. Isso mesmo: trezentos e treze mil reais pagos pelo esforço sobre-humano de julgar processos.
E agora vem a cereja do bolo: o “novo penduricalho“. Sim, porque essa criatividade para extrair dinheiro do bolso do contribuinte é digna de prêmio. Agora, com a benção do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), juízes que acumulam funções por mais de 30 dias ganham um extra de 1/3 do salário. Antes, isso era remuneratório e limitado pelo teto constitucional, mas com uma canetada mágica, passou a ser um pagamento extra, sem restrição. Incrível, não?
Enquanto isso, o cidadão comum, que paga esses luxos com impostos absurdos, está lá no supermercado tentando decidir se leva arroz ou feijão, porque os dois já estão um luxo inatingível. Mas calma! Barroso garante que tudo isso é para manter a dignidade da magistratura. Porque, obviamente, dignidade se mede pelo tamanho do contracheque.
No meio desse banquete de benesses, há quem ainda ouse questionar. O recém-eleito presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), teve a audácia de sugerir mais transparência nos gastos dos poderes. Quanta ousadia, não? Não sabe ele que transparência demais incomoda? Barroso, com sua habitual paciência de monge tibetano, rebateu que a transparência já é “absoluta”. Tão absoluta que o brasileiro precisa de um doutorado em contabilidade pública para entender onde exatamente o dinheiro está indo.
O problema não é apenas o desperdício descarado. É a naturalização da aberração. O problema não é nem o fato de que juízes estão recebendo supersalários bancados pelo contribuinte. É que eles têm coragem de ir para a TV e justificar isso com a maior cara de pau do mundo. E o pior: parte da população ainda acredita.
No final, quem paga a conta é sempre você. Enquanto o Brasil desmorona sob a inflação, a carga tributária escorchante e a economia cambaleante, magistrados seguem felizes, desfrutando de auxílios e penduricalhos que só existem porque as regras do jogo foram feitas para beneficiá-los.
E assim seguimos, com o STF e seu presidente defendendo um sistema onde a elite do funcionalismo se farta de dinheiro público, enquanto você, caro leitor, batalha para pagar o boleto da conta de luz. Mas não se preocupe: Barroso já disse que está tudo dentro da lei. E se está dentro da lei, então só pode estar certo, não é mesmo?
Com informações Poder 360