CNN Brasil: “PSOL aciona corregedoria contra fala de vereadora Cris Monteiro de SP”

A Câmara Municipal de São Paulo, epicentro do poder legislativo da maior metrópole da América do Sul, voltou aos holofotes. Mas, como tem se tornado padrão nos últimos anos, não

A Câmara Municipal de São Paulo, epicentro do poder legislativo da maior metrópole da América do Sul, voltou aos holofotes. Mas, como tem se tornado padrão nos últimos anos, não foi por conta da aprovação de projetos relevantes, soluções para o caos urbano ou avanços em políticas públicas. Não. A Câmara ressurge, mais uma vez, mergulhada em polêmicas, discursos de efeito e embates ideológicos vazios que parecem mais voltados para as redes sociais do que para o bem da população paulistana. E o caso recente da vereadora Cris Monteiro, do Partido Novo, é a amostra perfeita desse espetáculo político que insiste em ignorar as reais demandas da cidade.

Durante uma audiência pública da Comissão de Finanças, com foco na educação — isso mesmo, educação, um tema urgente e essencial — a vereadora Cris Monteiro ousou fazer um comentário que, em outra época, talvez passasse despercebido ou, no máximo, provocasse um debate sério. Mas em tempos de cultura do cancelamento, qualquer frase fora da cartilha ideológica da esquerda é motivo de denúncia. Cris Monteiro, então, declarou que “uma mulher branca, bonita e rica incomoda”, dirigindo-se a manifestantes negras presentes no plenário. Uma fala que, segundo ela mesma, expressava a percepção de um certo preconceito reverso, mas que foi imediatamente classificada como “conduta racista” pela vereadora Luana Alves, do PSOL.

Com a indignação pronta e o processo já desenhado, Luana Alves correu para acionar a Corregedoria da Câmara, alegando racismo. O problema não é apenas a acusação em si, mas o fato de que a política virou um teatro moralista em que palavras são julgadas com base na identidade de quem as pronuncia, não em seu conteúdo ou intenção. Porque quando Érica Hilton, por exemplo, uma deputada federal, afirma que é linda, maravilhosa, ama seu cabelo e se sente orgulhosa da sua aparência, ninguém se ofende. Pelo contrário: ela é exaltada como símbolo de autoestima e empoderamento. Mas quando uma mulher branca, como Cris Monteiro, fala da própria aparência — ou da forma como é percebida por outros — o discurso ganha automaticamente a etiqueta de “racista”.

A vereadora Zoi Martinez, do PL, apontou essa contradição ao vivo. Para ela, existe uma clara hipocrisia institucionalizada dentro da política paulistana. “Alguns discursos são aplaudidos, outros são massacrados, mesmo quando a essência é a mesma”, declarou Zoi, lembrando que Cris Monteiro enfrenta problemas de saúde, inseguranças e desafios pessoais, sendo tratada quase como uma criminosa por dizer algo que não feriria ninguém se fosse dito por uma representante da esquerda. E a pergunta que fica no ar, ecoando sem resposta nos corredores da Câmara, é: por que existem dois pesos e duas medidas?

Esse episódio serve como um espelho para a crise moral, intelectual e política da Câmara Municipal de São Paulo. Em vez de ser palco de debates técnicos, estudos de impacto, propostas de melhorias para o transporte, saúde, segurança e educação — que é, aliás, o objetivo da Comissão onde tudo aconteceu — a Câmara tem sido sequestrada pelo discurso lacrador. Tudo se resume a manchetes, likes, denúncias e guerra de narrativas. A política virou um reality show ideológico, onde quem lacra mais ganha protagonismo, mesmo que isso custe a dignidade do cargo que ocupa.

É sintomático que esse embate esteja sendo travado em um ambiente onde a educação paulistana deveria estar em pauta. Enquanto os alunos da rede municipal lidam com escolas sucateadas, falta de estrutura, professores sobrecarregados e índices preocupantes de alfabetização, os vereadores estão preocupados em disputar quem tem mais direito de falar sobre beleza, cor da pele ou privilégio. O foco saiu completamente do essencial e mergulhou no superficial. O símbolo da decadência legislativa não está nas palavras de Cris Monteiro, mas na incapacidade coletiva da Câmara em produzir qualquer discussão minimamente produtiva para os cidadãos que pagam seus salários.

Mais grave ainda é a passividade com que tudo isso é encarado. A imprensa, em sua maioria, abraça o discurso progressista, sem qualquer espírito crítico. Não se questiona o contexto, não se analisa o histórico da fala, não se pondera sobre o uso político da acusação. Tudo vira manchete acusatória, julgamentos morais em tempo real. A mídia tradicional, em vez de cumprir seu papel de vigilância democrática, prefere reforçar as narrativas de grupos que se colocam como os únicos legítimos a falar de desigualdade. O que a esquerda chama de inclusão, no fundo, se traduz em monopólio da narrativa.

E não é como se o povo estivesse desinteressado em política. O problema não é a população, mas a distância entre os representantes e os representados. Porque, enquanto a população paulistana lida com violência urbana crescente, caos no trânsito, aumento de impostos e taxas, inflação dos serviços municipais e falta de oportunidades reais, seus vereadores estão imersos em discussões estéreis sobre a estética da branquitude e o lugar de fala. Um delírio identitário que consome energia política, recursos e tempo — três coisas que, se bem utilizadas, poderiam mudar a vida de milhares de paulistanos.

Neste ambiente tóxico, a atuação de Cris Monteiro — concorde-se ou não com sua fala — revela uma tentativa legítima de se posicionar em meio a um terreno minado pela militância. Ela não negou os problemas da desigualdade racial. Ela apenas denunciou a forma como certos grupos reagem ao que consideram “símbolos de opressão”, como se toda mulher branca, rica e bem-sucedida fosse automaticamente culpada por um sistema histórico que ela mesma pode ter enfrentado. E aí reside a perversidade do pensamento progressista atual: transformar o indivíduo em culpado por aquilo que ele representa, não pelo que ele fez.

O silêncio da presidência da Câmara e o comportamento morno de parte dos parlamentares diante dessa perseguição institucionalizada mostram como a liberdade de expressão está em xeque dentro do próprio parlamento. Se uma vereadora não pode expressar sua percepção sem ser enquadrada como criminosa, o que sobra para o cidadão comum? O que sobra para os professores, para os jornalistas independentes, para os empresários, para os estudantes que ousarem discordar do discurso dominante?

Ao invés de ser punida, Cris Monteiro deveria ser defendida por seus colegas. Não por concordarem com ela, mas pelo princípio básico da democracia, que é garantir o direito à livre manifestação, especialmente em um espaço que, por definição, é o coração do debate público. Mas parece que, na São Paulo da ideologia, o Legislativo virou palco de militância. A técnica foi substituída por slogans, a verdade por narrativas, a coragem por medo de retaliação.

E, enquanto isso, o povo segue refém de uma Câmara que não apresenta soluções, não fiscaliza com rigor o Executivo, não cria leis eficazes e não representa mais os anseios da cidade. O mais trágico é que esse padrão de comportamento não é exclusividade da capital paulista. Ele se replica em outras esferas, em outros parlamentos, contaminando todo o sistema representativo. Mas quando isso acontece na maior cidade do hemisfério sul, a repercussão é maior, o impacto é mais profundo, e o alerta precisa ser mais sonoro.

A pergunta que não quer calar é: até quando os vereadores paulistanos serão protagonistas de escândalos, cancelamentos, lacrações e vaidades? Quando irão, de fato, se lembrar que foram eleitos para legislar, fiscalizar e representar? Porque a paciência do eleitorado, embora resiliente, tem limite. E a omissão de agora pode custar muito caro nas urnas de amanhã.

A política não é — e nunca deveria ser — uma arena de vaidades e vinganças morais. Ela precisa ser o espaço do confronto de ideias, do diálogo técnico, da busca por soluções concretas. Mas, enquanto isso não acontece, a população assiste, estarrecida, à transformação da Câmara Municipal de São Paulo em um palco de entretenimento ideológico, onde o que importa não é o conteúdo das propostas, mas a capacidade de viralizar frases, lacrar em plenário e perseguir adversários.

Cris Monteiro, goste-se dela ou não, não cometeu crime. Expressou uma opinião. Discorde-se, debata-se, questione-se, mas jamais se criminalize a fala. Porque o dia em que o Legislativo punir a palavra, o próximo passo será punir o pensamento.

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