
Ah, meu caro leitor do Em Fatos, prepare-se para um verdadeiro espetáculo de malabarismo político digno de uma novela mexicana escrita com financiamento público. Aqui estamos nós, diante de uma eleição para a presidência da Câmara dos Deputados que promete mais reviravoltas do que série de streaming, com os protagonistas Hugo Motta, o “camarada” Republicano que tem mais afinidade com o PT do que muito petista de carteirinha, e o Pastor Henrique Vieira, aquele que jura ser do PSOL mas parece frequentar as reuniões de estratégia do PT nas horas vagas.
Vamos começar pelo favorito, Hugo Motta, um deputado que, veja só, vota com o governo Lula em espantosos 91% das vezes. Isso mesmo, noventa e um por cento! Você piscou e ele já está levantando a mão para aprovar qualquer ideia que o Planalto jogue no Congresso, nem que seja a construção de uma estátua de 100 metros do presidente Lula com luzinhas piscantes em neon. Para efeito de comparação, até mesmo a deputada petista Erika Kokay conseguiu uma porcentagem menor de alinhamento com o partido: 86%. É quase como se Hugo tivesse um adesivo “Lula Livre” colado no carro, mas só ele sabe explicar essa fidelidade digna de um golden retriever bem treinado.
Agora, vamos falar do Pastor Henrique Vieira, o “rival” na disputa pela presidência da Câmara. O homem vota com o PT em 77% das vezes. Menos impressionante que Hugo, claro, mas ainda assim bem acima da média do PSOL, que é de 72%. Isso quer dizer que, mesmo sendo oposição na teoria, na prática ele é só aquele colega de trabalho que critica o chefe na hora do cafezinho, mas que ri das piadas dele e concorda em tudo nas reuniões importantes. Nada como ser contra só quando não tem risco de desagradar o patrão, né?
E, veja bem, a média de fidelidade ao PT dos dois protagonistas está tão alta que até dá para desconfiar se a eleição para a presidência da Câmara não é, na verdade, só uma disputa interna do próprio governo. É quase como assistir a um jogo de futebol em que ambos os times usam a mesma camisa e a torcida não sabe para quem gritar. No fim, tanto faz quem ganha, porque o resultado já é um gol para o Planalto.
E se você está aí se perguntando onde foi parar a coerência ideológica, bem-vindo ao Brasil, terra onde partidos de “oposição” são mais alinhados ao governo do que muitas bases oficiais. E nem adianta procurar lógica no comportamento dos partidos Republicanos e PSOL. O Republicanos, que deveria ser uma oposição ferrenha, está mais para um braço estendido do governo, com Hugo liderando a fila dos que aprovam qualquer coisa, de projetos de lei a mudanças no regimento interno da Câmara. Já o PSOL, que adora dizer que é o farol da esquerda, acaba sendo aquele farol queimado que só atrapalha a direção.
Falando em incoerências, é importante lembrar que o Republicanos tem no seu currículo apoio a Jair Bolsonaro na última eleição presidencial e abriga ninguém menos que Tarcísio de Freitas, o governador de São Paulo que jura ser oposição ao governo federal. Mas, pelo visto, as instruções de oposição do partido foram parar no fundo de alguma gaveta esquecida, porque os números de Hugo e seus comparsas mostram um alinhamento assustador com o PT. Quer ironia maior do que o líder da bancada Republicana ser mais “governista” que muitos petistas?
E que tal aquele pequeno detalhe de que essa candidatura de Hugo Motta ganhou força depois de uma articulação liderada pelo próprio presidente Lula? Ah, o charme irresistível da governabilidade à brasileira! De um lado, Lula joga o xadrez político enquanto Hugo vira uma peça tão previsível quanto a rainha em uma partida sem graça. Do outro, Vieira faz de conta que é oposição, mas só até o ponto em que isso não afeta seus votos ou seus discursos prontos para o Instagram.
Mas vamos deixar claro: os dois não são idênticos. Enquanto Hugo parece ser aquele funcionário puxa-saco que faz hora extra sem reclamar, Vieira é o rebelde que faz de conta que está desafiando o sistema, mas na verdade está só pegando carona no bonde que já está andando. A disputa entre eles é menos sobre visões políticas e mais sobre quem vai carregar a bandeja para o Planalto com mais eficiência. Quem sabe o próximo presidente da Câmara já não recebe uma carteirinha VIP de “Aliado Oficial do Governo”?
E as contradições continuam. Enquanto Hugo defende coisas como incentivos fiscais para o setor automobilístico no Nordeste, Vieira diverge aqui e ali só para manter as aparências. Ambos sabem que no final das contas vão estar no mesmo barco, aprovando medidas que mantêm tudo como está. E olha que nem estamos falando das votações de bastidores, aquelas que quase ninguém presta atenção, mas que definem como o dinheiro público vai ser torrado nos próximos anos.
A cereja do bolo, claro, é a eleição marcada para 1º de fevereiro. Inicialmente, outros nomes estavam na disputa, mas foram retirados para “facilitar” a vitória de Hugo. Facilitar, no caso, significa garantir que a dança das cadeiras políticas continue sem grandes sustos para quem já está confortável no poder. Afinal, por que complicar se todos podem sair ganhando um pedaço do bolo?
No fundo, a escolha entre Hugo Motta e Pastor Henrique Vieira é como decidir entre pizza de abacaxi e pizza de atum: ninguém pediu isso, mas aqui estamos, fingindo que temos uma grande escolha a fazer. A diferença é que, nesse caso, o resultado afeta o país inteiro, enquanto você ainda pode recusar a pizza estranha.
Então, caro leitor, a grande lição desse circo todo é que, no Brasil, a política é como um jogo de cartas marcadas. Os jogadores trocam de mesa, mas o baralho continua o mesmo, e quem sempre perde é você, que assiste de camarote esperando que algo mude. Hugo ou Vieira, Republicanos ou PSOL, oposição ou situação, no fim, todos seguem dançando conforme a música do Planalto, enquanto você se pergunta se algum dia essa ópera bufa vai acabar.
A verdade, meu amigo, é que no grande teatro da política brasileira, o roteiro já está escrito e você só é mais um figurante na plateia. A única coisa a se fazer é rir, porque chorar já ficou cansativo. Bem-vindo ao Brasil, o país onde até a oposição é governista e onde você descobre que a verdadeira disputa é para ver quem finge melhor. Que tal um aplauso para os nossos ilustres candidatos? Afinal, o show não pode parar!
Com informações Folha de S.Paulo