
A nova medida do governo italiano sobre a cidadania italiana escancarou o que já era um segredo aberto: a farra dos passaportes europeus acabou. O chanceler Antonio Tajani foi claro ao afirmar que “ser italiano é uma coisa séria”. E não é para menos! Durante anos, o Brasil e a Argentina viraram um mercado de cidadania, onde pessoas que mal sabem apontar a Itália no mapa se aproveitavam de uma brecha na lei para garantir um passaporte vermelho e passe livre na União Europeia. Agora, essa história está prestes a mudar, e claro, os “espertinhos” já estão em desespero.
A partir de agora, apenas filhos e netos de italianos terão direito ao reconhecimento da cidadania pelo ius sanguinis. Ou seja, os tataranetos que não sabem nem dizer “buongiorno” em italiano ficarão de fora. E isso faz todo o sentido. Afinal, como justificar que um indivíduo que nunca pisou na Itália, não fala o idioma e não tem qualquer ligação real com o país seja considerado italiano?
Não é de hoje que a cidadania italiana virou um negócio. Basta uma rápida busca na internet para encontrar dezenas de “consultorias” especializadas em “agilizar” o processo de reconhecimento. Escritórios, advogados, despachantes e toda uma indústria de comercialização de passaportes cresceram em torno dessa brecha jurídica. Muitos processos são autênticos? Claro. Mas não podemos ignorar que uma parcela considerável foi baseada em documentos falsos, declarações duvidosas e genealogias maquiadas.
A mudança também escancara uma hipocrisia clássica: boa parte dos brasileiros que buscam a cidadania italiana não tem o menor interesse em viver na Itália. Querem o passaporte europeu para facilitar a entrada nos Estados Unidos, driblar as filas da imigração e, claro, fugir das amarras burocráticas impostas a um simples passaporte brasileiro. O chanceler Tajani foi direto ao ponto: “Os interessados no reconhecimento da cidadania italiana não querem morar na Itália, mas apenas circular com mais facilidade pela União Europeia”. E ele está absolutamente certo!
É interessante notar que essa mudança ocorre sob o governo Giorgia Meloni, uma das lideranças conservadoras mais firmes da Europa. Essa medida é um reflexo direto de uma política de resgate da identidade nacional, algo que a esquerda globalista odeia. Para os progressistas, um país deve ser apenas um pedaço de terra, sem história, sem identidade e sem laços culturais. A Itália, no entanto, decidiu trilhar um caminho diferente: reforçar seu pertencimento, valorizar sua história e restringir a cidadania apenas a quem realmente tem vínculo real com o país.
Não é surpresa que os maiores impactados sejam os brasileiros e argentinos. Estima-se que no Brasil existam 30 milhões de descendentes de italianos, e que 800 mil deles já possuem dupla cidadania. Os números impressionam: em 2023, mais de 61,3 mil cidadanias foram reconhecidas por direito de sangue, sendo que quase 42 mil foram concedidas a brasileiros. O Brasil, disparado, lidera essa corrida.
E agora? Para quem já tem o passaporte italiano, nada muda. Mas para os que ainda estavam na fila de espera ou iniciando o processo, a história é outra. O novo decreto elimina pedidos baseados em gerações muito distantes, encerrando o ciclo de reivindicações tardias. E se depender da maioria conservadora no parlamento italiano, essa medida não só será aprovada, mas poderá inspirar outros países europeus a fazerem o mesmo.
A verdade é que a Itália não quer mais ser um supermercado de passaportes. E está no seu direito! A cidadania não é um favor, muito menos um prêmio de consolidação histórica. Se os descendentes desejam se tornar cidadãos italianos, nada os impede de morar no país, aprender a língua, contribuir para a sociedade e, então, requerer a nacionalidade por residência, como qualquer imigrante honesto.
Resta saber como essa decisão impactará o mercado de cidadanias no Brasil. O que farão os advogados e consultores que lucravam com essa verdadeira corrida do ouro genealógica? E os “descendentes de italiano” que já sonhavam em ostentar um passaporte europeu nas redes sociais? O tempo dirá. Mas uma coisa é certa: a era da cidadania fácil e sem compromisso acabou. E, honestamente? Já era hora.
Com informações Folha de S.Paulo