
O Senado brasileiro, em mais uma de suas manobras políticas que beiram o oportunismo, aprovou com esmagadora maioria o chamado PL da Reciprocidade, um projeto que pretende retaliar barreiras comerciais impostas por outros países. A votação foi praticamente unânime: 70 votos favoráveis e nenhum contrário. Mas a verdadeira questão aqui não está nos números, e sim no que se esconde por trás desse repentino surto de união entre nossos nobres senadores.
A justificativa oficial é que o Brasil precisa responder às tarifas de 25% sobre aço e alumínio impostas pelos Estados Unidos na gestão Donald Trump. O discurso é bonito: proteger a indústria nacional, assegurar uma concorrência justa, revidar injustiças do mercado internacional. No entanto, é difícil acreditar que a preocupação com os interesses brasileiros tenha motivado políticos que, até ontem, defendiam um globalismo cego e sem critérios, que sempre prejudicou nossa soberania econômica.
A tramitação do projeto no Senado foi meteórica. Pela manhã, a Comissão de Assuntos Econômicos deu seu parecer. À tarde, o plenário já aprovava o texto. Um ritmo incomum para um Congresso que geralmente se arrasta quando o assunto envolve segurança jurídica para empresários ou redução da carga tributária para os trabalhadores. Mas, dessa vez, um requerimento do senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), amplamente apoiado pelo presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União-AP), garantiu que tudo fosse conduzido com uma eficiência quase suspeita.
O que há por trás dessa celeridade? A esquerda, historicamente avessa a políticas protecionistas quando elas favorecem a indústria nacional, subitamente se descobriu defensora da reciprocidade comercial? Ou será que estamos diante de mais uma cortina de fumaça, uma tentativa de criar uma narrativa de “autossuficiência” enquanto o Brasil segue à mercê de interesses externos?
Não nos enganemos. Durante anos, os mesmos senadores que agora falam em defesa da indústria nacional assistiram passivamente ao avanço de acordos desvantajosos, que permitiram que produtos estrangeiros invadissem o Brasil sem qualquer restrição, minando a competitividade do setor produtivo brasileiro. De repente, vestem a capa de nacionalistas e apresentam uma solução rápida, sem maiores debates, sem um verdadeiro estudo de impacto para a economia do país.
A questão da reciprocidade comercial é complexa e exige estratégia. Retaliar tarifas de maneira indiscriminada pode gerar represálias que afetem setores-chave da economia brasileira. Mais do que isso, o Brasil precisa definir seu papel no cenário global: ser uma nação refém de políticas globais que beneficiam apenas os grandes conglomerados estrangeiros, ou um país que, de fato, impõe suas condições com inteligência e força? Infelizmente, o histórico recente do Congresso não nos permite nutrir muitas esperanças.
Agora, o projeto segue para a Câmara dos Deputados, onde, muito provavelmente, a votação será igualmente acelerada. A pergunta que fica é: a quem interessa essa pressa toda? O verdadeiro interesse nacional ou apenas mais uma jogada política para alimentar discursos vazios e perpetuar um modelo econômico que nunca favorece o cidadão comum?
Com informações Revista Oeste