Zambelli se sente abandonada por Bolsonaro e reflete sobre arrependimento político

O episódio envolvendo a deputada federal Carla Zambelli e o ex-presidente Jair Bolsonaro revela uma trama emblemático da fragilidade de um sistema onde as alianças, muitas vezes, são construídas sobre

Deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) (Foto: Vinicius Loures/Câmara dos Deputados)

O episódio envolvendo a deputada federal Carla Zambelli e o ex-presidente Jair Bolsonaro revela uma trama emblemático da fragilidade de um sistema onde as alianças, muitas vezes, são construídas sobre bases frágeis e interesses que se desfazem com a primeira maré contrária. Quando a deputada afirma que foi abandonada por Bolsonaro, algo parece muito mais profundo do que uma simples discordância política. Em meio a essa discussão, Zambelli se torna um reflexo de um cenário mais amplo: o da traição, do egocentrismo e da deslealdade que permeiam, com frequência, os bastidores da política nacional.

Primeiramente, é necessário entender a natureza das palavras de Zambelli. Ela, uma das figuras mais presentes na defesa do governo Bolsonaro, não só durante a campanha de 2018, mas também ao longo de todo o período de sua presidência, sempre se colocou como uma aliada leal, uma das figuras mais combativas contra a oposição. Ela ocupou um espaço importante no Congresso, alinhando-se com as bandeiras do governo e usando seu cargo de forma estratégica para fortalecer a figura do presidente. Contudo, a história de Zambelli também não se limita a um apoio incondicional; ela sempre foi uma personagem controversa, com declarações e atitudes que frequentemente ultrapassavam os limites do aceitável.

O episódio em questão, que envolve uma perseguição armada pelas ruas de São Paulo, é, sem dúvida, um dos pontos mais polêmicos dessa trajetória. A deputada, armada, perseguindo um homem nas vésperas da eleição de 2022, trouxe à tona questões sobre a responsabilidade e a ética de figuras públicas, especialmente quando se trata do uso da violência e da força policial em situações onde o bom senso deveria prevalecer. Zambelli, na sua entrevista, se arrepende do episódio, dizendo que “deveria ter entrado no carro e ido embora”. Essa reflexão, embora válida, chega tarde demais. O estrago já foi feito, e o episódio se tornou um símbolo da instabilidade que afetou a campanha de Bolsonaro e, indiretamente, a direita brasileira como um todo.

A condenação de Zambelli pelo STF e a perda do seu mandato refletem não só uma falha pessoal, mas também o desgaste das relações dentro do campo político da direita. A postura de Zambelli revela a vulnerabilidade dos membros de um governo que, ao chegar ao fim, se vê dividido, com aliados se afastando uns dos outros e traindo a confiança que antes parecia sólida. Mas o fato de Bolsonaro ter afirmado que a ação de Zambelli foi responsável pela perda da reeleição em 2022 joga uma luz ainda mais clara sobre a crise de lealdade e a falta de coerência política que marca o governo pós-presidência.

Aqui, é impossível não refletir sobre as palavras de Bolsonaro. Ele, como presidente, não só se beneficiou da lealdade de Zambelli, mas também fez questão de alavancar a imagem dela em momentos decisivos. Contudo, como sempre ocorre no universo político, a amizade e a lealdade são coisas volúveis. Quando o vento da derrota começa a soprar, a cortina de ferro das relações políticas começa a desabar, revelando o que sempre esteve ali: interesses, ego e vaidade. A declaração de Bolsonaro, de que Zambelli teria “tirado” sua reeleição, é, no mínimo, uma tentativa de descarregar as frustrações de uma derrota que, por mais que ele tente negar, é resultado de uma série de falhas, tanto estratégicas quanto pessoais. Ao invés de assumir suas próprias responsabilidades, Bolsonaro opta por culpar um aliado, e isso reflete a fraqueza de sua postura política pós-mandato.

Entretanto, a maneira como Zambelli reagiu a essa acusação revela, ainda mais, a fragilidade emocional e psicológica que ela enfrenta. A deputada, que já se disse vítima de depressão por conta dos eventos de 2022, agora se vê no limbo, sem o apoio que esperava receber de alguém com quem trabalhou durante tanto tempo. Sua frustração é compreensível, mas também revela um ponto delicado sobre as relações políticas: elas são passageiras. A amizade e a solidariedade, muitas vezes, são esquecidas em nome da sobrevivência política, e aqueles que se sentem abandonados têm a difícil tarefa de reconstruir suas carreiras e reputações num cenário altamente competitivo e hostil.

A resposta de Zambelli a essa crise, com seu arrependimento pelo episódio da arma, também não é algo isolado. Ela representa o dilema de muitos políticos que, em determinado momento, tomam decisões impulsivas, movidos por emoções e pressões do contexto político. A armamentista e a violência verbal se tornaram quase uma marca registrada da política de direita no Brasil, e Zambelli, ao buscar justificação para seu comportamento, acaba sendo mais um exemplo do quanto o jogo político no Brasil se caracteriza pela falta de reflexão e pelo uso excessivo da força, em vez de soluções mais racionais e éticas.

No entanto, o que realmente chama a atenção é o modo como a extrema-direita e o bolsonarismo, no momento de sua maior crise, buscam se redimir através de declarações públicas e de um retorno à “ordem e progresso” que nunca realmente existiu. Zambelli, que se via como uma defensora fervorosa da lei e da ordem, acaba sendo agora uma das figuras mais marginalizadas dentro de seu próprio campo político, rejeitada por aqueles com quem lutou lado a lado. As declarações de Bolsonaro e o abandono que ela sente, vão além de uma simples rixa entre aliados. Elas expõem as falácias e contradições do próprio Bolsonarismo, que, ao se fragilizar, joga seus próprios aliados na vala comum da desesperança e do abandono.

Essa trajetória de Zambelli é um reflexo do jogo político mais amplo que permeia a direita brasileira. Não há lugar para os fracos, não há espaço para quem erra. No mundo de Bolsonaro e seus aliados, ou você se mantém forte e inabalável, ou é descartado como um peão no tabuleiro. A falta de uma verdadeira base de valores sólidos, que vá além de interesses e ego, revela o colapso do próprio movimento conservador no Brasil.

Além disso, o episódio de Zambelli e a reação de Bolsonaro são também um reflexo de como as alianças políticas no Brasil, especialmente as da direita e do bolsonarismo, muitas vezes se constroem sobre pilares frágeis, fundamentados em interesses imediatos e na busca pela manutenção do poder, e não por valores éticos e morais duradouros. Quando a luta pela sobrevivência política começa a ser travada, a lealdade e a solidariedade são abandonadas em nome de conveniências momentâneas. As consequências disso são graves não apenas para os indivíduos envolvidos, mas para o próprio movimento político.

Em última análise, o episódio envolvendo Zambelli e Bolsonaro é uma prova clara de que, na política brasileira, as aparências podem ser extremamente enganosas. Aliados podem se tornar inimigos, e as traições não são apenas parte do jogo, mas sua essência. A grande lição aqui é que, quando os pilares de uma aliança política se baseiam em interesses pessoais e egoístas, a derrocada é inevitável. Zambelli e Bolsonaro são apenas mais uma prova disso.

Com informações Gazeta do Povo

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